O recente triplo feminicídio ocorrido na zona sul de Ilhéus chocou a cidade e expôs novamente a escalada da violência no município. No entanto, em vez de apresentar medidas concretas, o prefeito Valderico Reis preferiu seguir o estilo de seu “guru” político, ACM Neto, e transferir toda a responsabilidade para o governador Jerônimo Rodrigues.
A tentativa de politizar a tragédia reacende uma série de questionamentos: até onde vai a omissão do poder municipal diante da violência que assola Ilhéus há décadas?
Violência não é problema novo
É falso afirmar que a violência na Bahia nasceu nos governos do PT. Já em 2005, Salvador registrava 44,5 homicídios por 100 mil habitantes, segundo o Mapa da Violência 2008, colocando a capital baiana entre as mais violentas do país antes de Jaques Wagner assumir o governo em 2007.
Além disso, a escalada da criminalidade é um fenômeno nacional. O PCC nasceu em São Paulo, governado pelo PSDB, e se expandiu para todo o país; o Rio de Janeiro, sob administrações do PFL e PMDB, já era palco de guerras entre facções e milícias muito antes. Ou seja, a violência não é invenção de um partido político, mas resultado de décadas de abandono estrutural da segurança pública e de fatores nacionais como o tráfico de drogas e a desigualdade social.
Portanto, culpar apenas Jerônimo Rodrigues ou o PT pela violência atual é no mínimo injusto: o problema é histórico, profundo e atravessa diferentes gestões e partidos.
Exige bom senso, equilíbrio, planejamento e politicas públicas de toda cadeia federal, estadual e municipal.
A realidade em Ilhéus sob Valderico Reis
Se a crítica ao governador é insistente, cabe também olhar para o espelho: o que o prefeito de Ilhéus tem feito para enfrentar a violência local?
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Guarda Municipal: lutou recentemente por reajuste digno, mas recebeu aumento pífio. O concurso público iniciado pelo ex-prefeito Mário Alexandre, que visava ampliar o efetivo da Guarda, foi simplesmente engavetado por Valderico.
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Estrutura: até hoje não houve investimento em veículos, equipamentos ou em uma central de videomonitoramento para a cidade. Diferente de Marão, que entregou quadriciclos para patrulhamento das praias, fortalecendo a atuação da GCMI.
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Depoimentos: na época, o comandante Rosivaldo Oliveira destacou que os equipamentos “iriam otimizar de forma significativa o trabalho da Guarda Municipal”. Outro agente completou: “É inegável a valorização da Guarda durante a gestão de Marão, tanto em salários quanto em estrutura”.
Hoje, esse cenário é de abandono.
Educação, prevenção e descaso
Não há combate à violência sem investimento em educação. O que a gestão atual fez nessa área? Além do escandaloso contrato da merenda escolar no valor de R$ 15,5 milhões, que já é investigado pelo Ministério Público, nada de relevante foi implementado.
Reajustes negados à classe, escolas sem melhorias significativas e ausência de políticas públicas de valorização educacional aprofundam o problema.
Ilhéus entregue ao abandono
Matagais tomam conta das praias, comprometendo o turismo e oferecendo esconderijos para criminosos. A iluminação pública é precária, ampliando a sensação de insegurança.
Não há investimentos em centros de assistência psicossocial, nem em programas para recuperação de dependentes químicos e moradores de rua — fatores que também impactam diretamente os índices de criminalidade.
Enquanto isso, o governo municipal prioriza viagens internacionais custeadas pelo dinheiro do contribuinte e celebra contratos milionários, sob questionamento por possíveis indícios de superfaturamento.
O contraste com ações do Estado
Enquanto o prefeito reclama da ausência do governo estadual, Jerônimo Rodrigues reformou delegacias e, junto à deputada Soane Galvão, garantiu viaturas para a Polícia Civil e Militar em Ilhéus.
A pergunta que fica é: se o prefeito insiste que tudo depende do governador, por que mantém uma Secretaria de Segurança e Ordem Pública e uma Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres? Qual a função da vice-prefeita Wanessa Gedeon nesse cenário? Se nada pode ser feito, por que não extinguir as pastas e redirecionar recursos?
O risco da retórica vazia
O discurso do “ex-prefeito deixou a cidade falida” já se repete desde o primeiro dia de governo. Até quando essa narrativa sustentará a falta de resultados? Será que Ilhéus corre o risco de reviver o que aconteceu em São Bernardo do Campo, onde o prefeito teve o mandato encurtado por investigações de uso indevido do erário?
O mínimo esperado
Em vez de politizar um momento de dor, o prefeito deveria pedir desculpas às famílias das vítimas. A cidade espera de um gestor menos propaganda e mais ação.
Como disse recentemente o presidente do Sindicato dos Radialistas: “O futuro será bem melhor”. Mas isso só será possível se o presente deixar de ser administrado com desculpas.
Redatores :
David Reis
Presidente do Sindicato Dos Radialista de Ilhéus - Manoelito Puentes DRT 6455/BA